Como falar "não" para o sexo

Era um dia perfeito para o romance. Os pássaros estavam cantando, as flores tinham acabado de abrir no sol de começo de primavera, e eu estava andando de mãos dadas com um novo parceiro. Estava falando sobre uma estória de um assédio desconfortável partindo do meu vizinho quando meu crush me para no meio da minha frase e fala: "Reina. Não é difícil falar não".

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As palavras congelaram na minha garganta. Eu sou uma adulta, empoderada, feminista. Então porque eu achava tão difícil falar para o meu vizinho parar - e porque estava achando mais difícil ainda contradizer o meu parceiro?

Existe uma razão para ser difícil dizer não. Meu parceiro na época estava completamente errado (e para falar verdade, foi bem babaca). Dizer não é difícil, especialmente para nós que não somos homens cisgêneros. Afinal, nós somos treinadas desde o nascimento a sermos agradáveis nas nossas interações profissionais e íntimas, e a priorizar as emoções dos outros ao invés da nossa.

É preciso muita coragem para nos abrirmos sexualmente. E é preciso conhecimento dessa vulnerabilidade quando rejeitamos alguém. 

Essa expectativa permeia nosso trabalho e nossa vida doméstica. Ao redor do mundo, mulheres fazem duas até dez vezes a quantidade de trabalho não remunerado doméstico, emocional e de cuidado que os homens: de cuidar das crianças, ao cozinhar o jantar e até checar a saúde da sogra. Muitas mulheres são ensinadas que é mais importante agradar nossos parceiros que nós mesmas. Mulheres são a grande maioria nos trabalhos de serviço, como restaurante e prostituição, que dependem da priorização das necessidades do outro. Trabalhadoras dessas profissões frequentemente têm perdas financeiras e sofrem violência sexual, isso sem falar na atenção sexual não desejada. Trabalhadoras que recebem gorjeta têm a taxa mais alta de assédio sexual que em qualquer outra profissão.

Na nossa vida íntima, dizer "não" não é apenas desconfortável: pode ser perigoso. Em situações sexuais onde você se sente insegura, dizer sim para alguns tipos de sexo pode ser uma estratégia para evitar alguma violência extrema. O mesmo vale para relacionamentos abusivos, nos quais ficamos passivas na tentativa de nos protegermos de mais abusos.

Mesmo que dizer "não" não seja perigoso, a pressão de agradar e não ferir os sentimentos dos outros pode nos causar a concordar com coisas que nós não queremos realmente. Como no exemplo acima: eu não estava com medo físico do meu vizinho, mas estava ansiosa de parecer hostil se eu evitasse a conversa mole dele. Similarmente, eu não tinha medo que meu parceiro da época fosse me machucar, mas ficava preocupada se ele iria me achar desagradável ou difícil e por consequência, gostaria de me ver menos.

Você não precisa de justificativa

Aqui está o negócio: nós sempre temos direito a dizer não para a atenção sexual, sem justificativa, sem desculpas, sem culpa. A afirmação consensual, em seu sentido mais profundo, não é coagida nem relutante. É não aceitar fazer sexo para evitar machucar o sentimento de alguém. É dar oportunidades iguais de nos abrirmos para outras pessoas e experiências. Se não é de forma gratuita, não é consensual.

É natural queremos sermos empáticos quando dizemos não para uma pessoa. É preciso muita coragem para pedir para alguém se abrir sexualmente para você. Se estamos próximos de alguém, ou queremos continuar tendo relações sexuais ou um relacionamento com eles no futuro, nós podemos explicar nossa decisão.

Mas no final do dia, seu trabalho é manter você segura -  e não lidar com as expectativas dos outros. E se você rejeitou alguém com empatia, você fez tudo o que podia fazer, e no momento que a atenção sexual da pessoa rejeitada te faça se sentir desconfortável, ou eles tentem discutir com você ou te fazer sentir culpa até você dizer sim, esse é o sinal para você pular fora. Os sentimentos dos outros sobre o seu "não" são bagagem deles para lidar, não sua.

Como escutar você mesma

Saber o que queremos e o que não queremos é o tipo de coisa que é mais fácil falar do que fazer. Se temos estórias de trauma íntimo, o nosso "não" pode ser ainda mais difícil de acessar. Isso acontece porque as táticas de abuso e controle são especialmente usadas para alienar nós mesmas da nossa voz interna.

O Gaslighting - ou manipulação da nossa realidade por um abusador - pode nos deixar lutando para confiar em nossos próprios pensamentos e percepções. Para cooperar, podemos evitar sentimentos e desassociar da realidade. Esses mecanismos de cooperação são compreensíveis e normais, mas também impendem de conseguirmos realizar nossos desejos.

Tente falar com seu parceiro sobre seus limites antes do sexo, é mais fácil dizer "não" assim do que no calor do momento.

A boa notícia é que nossa intuição nunca nos abandona, mesmo quando somos ensinados a ignora-la. Nós sempre podemos a aprender a confiar em nossos instintos. Isso começa no simples fato de notar o seu corpo. Você está com fome, com tesão, cansado, feliz? Você precisa comer, beber, dormir, se masturbar? Use essa informação para praticar a aprender os seus desejos e dar ao seu corpo o que ele precisa.

Nós podemos trazer a mesma energia curiosa e agradável para a nossa vida sexual. Coloque amor e cuidado na masturbação: sozinha, com um vibrador, com um parceiro. O que é incrível para você? Onde faz cosquinha? Onde te faz chorar? Faça uma lista do que você tem tesão ou não e descubra o que você gosta, não gosta ou está curiosa sobre.

A prática de dizer "não"

Nossos corpos falam para a gente quando uma situação sexual é insegura ou simplesmente não está certa. Os sentimentos de medo ao conhecer um estranho, tédio ao toque em um encontro, ou nojo dos comentários do nosso chefe são sinais para parar e refletir. Assim como quando estamos fisicamente excitadas, mas mentalmente ou emocionalmente hesitantes. Ao invés de ignorar esses sentimentos, pratique se tratar como você trataria o seu melhor amigo. Assim como você não quer pressionar o seu amigo a fazer algo que eles não gostariam de fazer, não se pressione.

Se você está ansiosa em falar não para os outros, comece devagar. Dizendo não para abraços ou apertos de mão não desejados em situações sociais casuais pode ser incrivelmente difícil de fazer, como o distanciamento social nos ensinou; ou dizer não para uma comida oferecida. Se você está com um parceiro e quer ficar abraçado, mas não quer beijar, fale para ele. Se você não quer fazer sexo aquela noite, tente praticar dizer "agora não".

Tente falar com seu parceiro sobre seus limites antes do sexo, é mais fácil dizer "não" assim do que no calor do momento. Vocês podem concordar em usar uma palavra para indicar seus limites, ou usar sinais como verde, amarelo e vermelho para indicar o quanto querem avançar.

Se você está entrando em uma situação não familiar, ou se você está tentando criar bases de segurança mais saudáveis, faça uma lista de sinais vermelhos antes. Que comportamentos do seu parceiro mostram que é hora de sair do quarto, do encontro, do relacionamento? Que palavras você pode usar para falar "não"? Você pode ainda chamar um amigo para checar se o encontro está indo bem, ou como desculpa para sair rápido de algum lugar.

Consentimento é a base de tudo

Com todo o trabalho que as feministas tiveram para representar o nosso direito de dizer "sim" para o sexo, parece contra intuitivo focar em dizer "não". Mas na realidade, o slut-shaming e a coerção sexual são dois lados da mesma moeda. A crença limitante que está embaixo deles é que ambos que acreditam que nossos desejos são menos importantes que as expectativas dos outros. Quando encontrarmos essa dúvida e a culpa perversa, como a autora e ativista Adrienne Maree Brown escreve, "o seu forte e sólido não são caminho para um profundo e autêntico sim". Ao praticar dizer não, nós criamos espaço para experiências mais profundas e prazerosas com os outros, e criamos uma relação mais positiva com nós mesmas.

Sobre o vizinho e o meu ex-parceiro que andei naquela manhã: eu acabei dizendo para o meu vizinho parar com suas tentativas e dispensei o meu parceiro. Eu não sabia naquela época, mas a conversa que eu tive com os dois tinha uma coisa em comum: os dois não estavam me escutando.

Escrito por Reina GattusoTradução livre de artigo publicado originalmente no Swell. Leia o artigo original.

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