Tudo Sobre Orgasmos - Lilit Explica

Se está ok, não está bom. Estamos acostumadas a nos contentarmos com o que "tem para hoje" e, caso não conheçamos todo o nosso potencial, dificilmente nos daremos conta do que podemos almejar. O parâmetro deveria ser esse: uma relação prazerosa é aquela que você sai satisfeita. Sozinha ou acompanhada. O orgasmo não é o único e grande objetivo de toda relação, mas a sua falta, tampouco, deveria ser o padrão. 

Para mim, o caminho até os orgasmos foi um pouco menos desafiador do que a maioria das mulheres, mas, mesmo assim, teve seus obstáculos. Desde nova, sabia o que era necessário fazer para chegar lá. Eu me masturbava. Sempre do mesmo jeito, intensidade, e focando muito no genital. Mas mesmo assim, chegava lá. Era rápido, uma descarga de prazer e relaxamento que me ajudava a dormir melhor e me satisfazer. Mas a verdade é que isso era apenas um espirro perto do que poderia experimentar. E foi o conhecimento sobre o clitóris, prazer feminino e, claro, os vibradores que me ajudaram a atravessar a primeira descida e experimentar a montanha russa por completo. 

A partir daí, comecei a me perguntar o porquê de não estarmos todas colecionando orgasmos e relações prazerosas? Se nós precisássemos atingir orgasmos para procriar, a visão que a sociedade tem sobre nosso prazer certamente seria diferente. E mesmo apesar de o assunto ter florescido em alguns setores mais progressistas, no geral, o tema ainda é um grande tabu sexual. É por isso que o trouxemos para cá. Para mostrar, na real, o que acontece quando uma mulher goza. 

BLOCO 1: COMPREENDER

A excitação feminina foi historicamente reprimida e silenciada. Na Grécia Antiga, por exemplo, mulheres acusadas de adultério eram diagnosticadas com “excesso de libido” e, como castigo, eram obrigadas a passarem o inverno descalças — já que, à época, acreditava-se que o frio diminuía o desejo sexual. De lá para cá, experimentamos toda a sorte de julgamentos e repressões. Como resultado, colecionamos medos, vergonhas, culpas e muito desconhecimento.

Os números mostram: em 2020, nós, da Lilit, lançamos uma campanha online e ouvimos mais de quatro mil mulheres no Brasil. Nesse estudo, foi possível validar que, no País, acompanhando o cenário internacional, também existe um abismo do orgasmo (pleasure gap). Os números daqui são muito parecidos com os estudos  gringos e mostram que só três a cada dez mulheres atingem o orgasmo na relação sexual. Enquanto entre homens, essa taxa é de 90%.

Por que, afinal, estamos gozando tão pouco?

Acreditamos que conhecimento é uma ferramenta maravilhosa de transformação. Por isso, antes de mais nada, o primeiro passo é entender quais as fases de um orgasmo — aqui, tanto para mulheres quanto para homens, ok? 

Fase 1: excitação

O corpo começa a dar seus primeiros sinais: há uma certa aceleração cardíaca, os músculos ficam mais tensos e o sangue começa a fluir para nossos órgãos sexuais.

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Fase 2: plateau

Aqui representa aquela etapa em que há aumento da excitação. É quando respiração, frequência cardíaca e tensão muscular se intensificam. No caso das mulheres, as paredes vaginais ficam roxas, com maior aumento da circulação sanguínea e o clitórios se protege sob o capuz para evitar estimulação. É possível que espasmos musculares comecem a aparecer. Sabe aquele pé ou mão que mexe do nada? Pois é exatamente desse movimento que estamos falando.

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Fase 3: orgasmo

Chegamos ao momento de maior êxtase dessa trajetória. Pressão arterial, frequência cardíaca e respiração estão lá em cima. De repente, há uma descarga da tensão sexual. Nas mulheres, ela vem acompanhada da contração dos músculos da vagina; nos homens, a contração dos músculos da base do pênis resultam na ejaculação. 

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FASE 4: resolução

Depois do orgasmo, geralmente há uma experiência completa de relaxamento. Os músculos vão se soltando pouco a pouco, circulação e pressão voltam às condições normais e a respiração retoma seu ritmo.

Vale ressaltar: apesar de dividirmos com a ala masculina o mesmo faseamento orgástico, ainda assim é preciso lembrar que nosso desejo sexual age de forma distinta. Se há duas décadas era visto exatamente como o dos homens — um ciclo linear que começa com desejo e se segue com a excitação, o orgasmo e então o estado resolutivo —, descobriu-se, nos anos 2000, que a nossos ciclos podem ser um pouco mais complexos. A eles, damos os nomes de espontâneo e responsivo. 

Desejo sexual espontâneo é aquele que surge independente do contato sexual. Aparece, por exemplo, quando temos um pensamento erótico, quando encontramos alguém que nos interessa, quando vemos, lemos ou ouvimos algo que nos excita na hora. Já o responsivo é aquele que precisa de mais estímulos para que o desejo apareça. Portanto, mesmo que não haja um desejo inicial, ainda assim é possível que, após iniciada alguma atividade sexual, ele surja simultaneamente com a excitação.

​📖  Leia “Frígida não, responsiva” e entenda o contexto histórico — e machista — a respeito de nosso ciclo de desejo

A descoberta foi estrondosamente positiva para muitas mulheres, antes lidas como frígidas. Mas os desencontros teóricos não param por aí. Sigmund Freud, pai da psicanálise, foi o responsável por desenrolar o pensamento que dizia que mulheres que atingiam o orgasmo por meio de estimulação clitoriana eram “imaturas” e que era o orgasmo vaginal, obtido pela penetração, o responsável pela maturidade sexual feminina.

Hoje, sabe-se que a teorização não tinha nenhum embasamento anatômico e que, na verdade, mesmo o orgasmo obtido com a penetração só é possível graças à extensa rede de nervos clitorianos. Isso porque estudos comprovam que o que vemos na parte externa é apenas a glande do clitóris. Essa pontinha do iceberg tem oito mil terminações nervosas, mas outras 15 mil se estendem dentro e fora da vagina e também do ânus. 

💻  Assista “It took science 2,000 years to find the clitoris” e entenda a nova descoberta

Portanto, não há nada de errado com esse ou aquele tipo de orgasmo, nem hierarquia de qual tipo é melhor. Explorar outras partes do corpo é uma ótima forma para sustentar o prazer. Independente da estimulação, o que vale, mesmo, é se você está gozando com a experiência. 

​📖  Saiba tudo sobre o clitóris e suas possibilidades eróticas aqui

Todo orgasmo é válido. E todo orgasmo traz um amplo leque de benefícios. A liberação de endorfina, por exemplo, pode ajudá-la na redução do estresse e na melhora do humor. A descarga da tensão sexual também pode deixá-la tão cansada a ponto de que você durma bem melhor.

BLOCO 1 — COMPREENDER

Resumo: Pesquisas comprovam: as mulheres estão gozando pouco quando em relações sexuais. Mas por quê, afinal? Acreditamos que o primeiro passo para qualquer transformação é o conhecimento. Entender as amarras sociais e históricas que prendem nosso desejo é o caminho para nos libertarmos das imposições que bloqueiam nosso poder orgástico.

Perguntas norteadoras para uma sexualidade mais livre e prazerosa: 

Quais pensamentos me deixa tensa ou ansiosa durante o sexo ou masturbação?

O quanto isso bloqueia meus orgasmos?

O que posso fazer para me sentir mais relaxada ou mudar esse pensamento?

Ex: fico ansiosa pensando que estou demorando demais para gozar e que minha parceria está cansada

Ex: MUITO

Ex: quando sentir esse pensamento, focar na minha respiração e nas sensações que estou tendo naquele momento / conversar com minha parceria sobre isso

 

BLOCO 2: QUESTIONAR

Conhecimento adquirido, podemos começar a questionar um pouco do que nos é imposto. A começar com o porquê fingimos quando não gozamos. Uma pesquisa de 2019, publicada na Archives of Sexual Behavior, mostrou que 58,8% das participantes — americanas, heterossexuais entre 18 e 94 anos — afirmaram ter fingido orgasmo ao fazer sexo com um parceiro. Entre elas, 3% afirmou fingir ocasionalmente e 55% diz ser uma prática frequente.

Os motivos são diversos e boa parte deles foram catalogados na “Escala de fingimento do orgasmo feminino”, também divulgado na na Archives of Sexual Behavior. Medo de perder o parceiro, vontade de encerrar a relação sexual ou aumentar a excitação são alguns dos relatados. A verdade é que fomos educadas para que nossa sexualidade esteja a serviço da satisfação de nossos possíveis parceiros — e aqui estamos falando sobre homens, o que silencia a vontade legítima de muitas de nós de nos relacionarmos sexualmente com outras mulheres. 

Acontece que, quando fingimos, estamos nós mesmas nos afastando da gama imensa de prazer que somos capazes de nos proporcionar. Há outro caminho possível para que nosso desejo não seja invisibilizado: um diálogo franco e aberto. Uma pesquisa da Prazerela relatou que 43% das brasileiras conversam abertamente sobre sexo com seus parceiros. É, assim,  jogando luz na angústia, que deixaremos de perpetuar estereótipos que nada mais são do que obstáculos ao orgasmo feminino.

E por falar em estereótipo…

A pornografia ensina que sexo — e orgasmo — é algo estético, plástico. Na falta de uma educação sexual real, de qualidade e com transparência, acabamos reproduzindo o que nos ensinam os pornôs. Mas gozar é um ato selvagem, animal. Pensar que temos de reproduzir determinadas caras, bocas, posturas e reações faz com que ainda mais ansiedade seja adicionada à equação. O orgasmo não é o que vemos na tevê. Ele é natural, espontâneo, verdadeiro. Ele é real — e não encenado, photoshopado, editado. 

“As representações na mídia querem nos fazer acreditar que basta apenas um pouco de papai e mamãe, ou sexo contra a parede, para a mulher ter um orgasmo alucinante, todas as vezes, em menos de um minuto. Esse é o roteiro, mesmo em comédias românticas. O grande amante de Hollywood misteriosamente já sabe exatamente o que fazer para satisfazer a mulher. Ele não pergunta nada a ela, e ela, por sua vez, também não toca no assunto.”

 — Trecho da plataforma OMGYes, que desmistifica e adota uma postura honesta em relação às diferentes formas que as mulheres realmente sentem prazer. Conheça mais sobre o projeto aqui.

E se você chegou até aqui se questionando se já teve ou não um orgasmo, saiba que a experiência é, sim, única. Mulheres irão relatá-la de diferentes maneiras porque somos, afinal, diversas. De qualquer forma, se for necessário descrevê-la de um jeito um pouco mais universal, a explicação passaria por dizer que o orgasmo é um pico de prazer, uma descarga de energia causada pelo acúmulo de tensão sexual, acompanhada de satisfação e alívio.

BLOCO 2 — QUESTIONAR

Resumo: Conhecimento adquirido, podemos começar a questionar um pouco do que nos é imposto. Quais nossas referências sobre orgasmo? Que narrativas ouvimos, lemos, vemos que mostram jeitos “certos e errados” de atingir o clímax sexual? É hora de rompermos com o que nos ditaram e criarmos nossas próprias experiências. 

Perguntas norteadoras para uma sexualidade mais livre e prazerosa: 

  1. Você atinge o orgasmo com mais facilidade na masturbação ou em transando com um(a) parceiro(a) ou mais de um?  
  2. Você já fingiu orgasmo? Se sim, por quê? 
  3. De onde vem seu referencial de orgasmo? Ele é real ou editado? Fabricado ou selvagem?  Deixamos uma sugestão de exercício: masturbe-se em frente a um espelho para ver sua reação quando o clímax vem! 


BLOCO 3: TRANSFORMAR

Há formas de transformarmos nossa relação com os orgasmos. E a masturbação pode ser uma grande aliada nesse processo. Na pesquisa da Prazerela, já citada neste artigo, um outro dado merece destaque: mesmo com o número preocupantemente baixíssimos de mulheres que têm orgasmo em relações sexuais (principalmente heterossexuais), ainda assim 74% das mulheres relatam atingir o orgasmo quando se masturbam.

A masturbação é uma ferramenta poderosa de intimidade e autoconhecimento. Quando nos masturbamos, vamos mapeando gostos, preferências, limites. Vamos atualizando, também, nosso catálogo de informações — já que o desejo não é estático e aquilo que gostamos hoje pode não ser do nosso agrado amanhã. Com a masturbação, podemos entender melhor nosso corpo, como funciona nosso prazer, de que forma somos despertadas eroticamente. Não há forma mais certeira de entender o que nos faz chegar lá e o que nos afasta do clímax. 

Também é com a prática masturbatória que vamos criando confiança, melhorando nossa autoestima, vamos legitimando nosso direito ao prazer. Quando estamos sozinhas, menos tensas, menos esmagadas pelas pressões e cobranças sociais e por memórias negativas relacionadas ao sexo, é nesse momento que conseguimos relaxar no desejo. E o orgasmo é, antes de tudo, um exercício de entrega. 

Se um orgasmo é bom, e se não pararmos no primeiro?

Imagina se depois de ter um orgasmo, você sustentasse a excitação e continuasse se permitindo acumular tensão sexual até ter uma nova descarga? O desafio, aqui, é que logo após o primeiro orgasmo experimentamos uma alta sensibilidade. A reação primária é querer parar essa cadeia, sem mais investimentos para evitar um possível desconforto que acompanhe os novos estímulos. E tudo bem se você quiser parar por aqui. Mas, caso queira ver até onde pode ir, há um universo ainda mais profundo de possibilidades. Orgasmos múltiplos existem e você pode, sim, acessá-los, se quiser. 

E depois dessa conversa honesta, quero trazer um ponto importante: é o prazer que deve, sempre, ser a medida — e não o orgasmo. Quando colocamos mais uma meta a ser alcançada, criamos uma nova ditadura sobre nossos corpos. Lembra que falei, lá em cima, sobre como descobri que a masturbação ou a relação sexual poderia ser uma montanha-russa de prazer? Então, é exatamente sobre isso: quando entramos na brincadeira, não é sobre o ponto de partida, nem sobre o ponto de chegada, mas sobre toda a viagem que acontece no meio. Os picos, as descidas, a aventura frente ao desconhecido. Se um dos picos trouxer um orgasmo, ótimo, mas, se não for o caso, não significa que a montanha-russa foi menos divertida ;-)

BLOCO 3 — TRANSFORMAR

Resumo: Há formas de transformarmos nossa relação com os orgasmos. E a masturbação pode ser uma grande aliada nesse processo. Com a prática, podemos entender melhor nosso corpo, como funciona nosso prazer, de que forma somos despertadas eroticamente. Não há forma mais certeira de entender o que nos faz chegar lá e o que nos afasta do clímax. 

Perguntas norteadoras para uma sexualidade mais livre e prazerosa: 

  1. Com que frequência você atinge o orgasmo quando se masturba? 
  2. Quando você não atinge o orgasmo, você sente como se a experiência não tivesse valido a pena e se cobra? 
  3. Tente lembrar de alguma situação em que você sentiu muito prazer e atingiu o orgasmo. Com essa experiência em mente, responda as perguntas abaixo: 

Quais sons, gostos, cheiros e locais me ajudam a entrar no clima?

Quais toques ajudam na minha excitação e prazer?

Como posso explorar meus gostos em minhas relações - a dois ou sozinha?

Ex: cheio mais cítricos, o calor das velas, um lugar mais calmo e organizado
Ex: no início toque mais suaves, como uma massagem. depois evoluir para um toque mais rápido e forte, como se o desejo tivesse tomado conta do corpo da pessoa
Ex: comprar um vibrador para que possa explorar diferentes potências no meu toque 

 

Nota das editoras:
Na maioria das vezes, quando mencionamos “mulheres” nesse conteúdo, estamos nos referindo a mulheres cisgêneros — aquelas pessoas que nasceram com corpos designados femininos, foram criadas socialmente como meninas e se identificam hoje como mulheres. Existem muitas outras mulheres que não se encaixam em um ou mais de um dos critérios mencionados, mas infelizmente existem pouquíssimos estudos sobre a sexualidade de pessoas trans e queer. Esse conteúdo, especificamente, foi produzido a partir do ponto de vista e considerando as descobertas da sexualidade de mulheres cisgêneros, mas estamos sempre atentas, olhando, buscando e mergulhando na investigação da sexualidade de todas as mulheres. 

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O QUE ELAS DIZEM SOBRE O BULLET LILIT?

Entrega super rápida, embalagem cuidadosamente produzida, um cheirinho delicioso e um produto surpreende, já tive outros vibradores, mas nenhum com esse cuidado no acabamento, uma textura delicada, simplesmente PERFEITO! Já sou fã de carteirinha, até comprei um para minha melhor amiga.

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